Rosana é uma travesti loira, de olhos castanhos e seios fartos. Muito mais bonita do que uma porção de mulheres. É aquela travesti que as pessoas dizem “jurei que era mulher”. Conheci Rosana quando voltou a Porto Alegre, no início deste ano. Ela nasceu aqui, mas teve que se mudar para São Paulo. Sua vida sempre foi muito difícil. Quando adolescente, notou que seus sentimentos eram diferentes e necessitava expressar sua feminilidade. Foi espancada pelo pai e expulsa de casa pela mãe. Fez programas na Avenida Farrapos até que cansou e decidiu que deveria ter uma vida digna, como a de qualquer outra “mulher”. Procurou emprego durante um bom tempo. Quando não caçoavam de suas maneiras a tratavam mal pelo seu pensamento popular, ignorante. Rosana não terminou nem o ensino fundamental. Quando conseguiu um emprego em telemarketing sentiu-se orgulhosa. Em pouco tempo foi demitida por não se enquadrar nos padrões morais da empresa. Desiludida, prestes a voltar a vender o corpo, uma amiga, dos cabarés que freqüentava, ofereceu à Rosana uma oportunidade de trabalhar em seu salão de beleza. Rosana tentou, mas as clientes do salão não se sentiam confortáveis em serem atendidas por “tamanha aberração” como disse uma delas. Voltou pras ruas, onde a pagavam melhor: conseguia mais de 400 reais por noite. Um tempo depois, de carona em um caminhão, foi para São Paulo atrás de melhores oportunidades. Quando a encontrei voltava a Porto Alegre pra providenciar seu visto. Iria para a Espanha. “Lá as travestis brasileiras são muito requisitadas, ganham horrores de dinheiro” dizia.
Rosana é mais uma pessoa sem perspectiva de futuro. Quando ficar velha e não for mais útil na noite vai morrer de fome ou mendigar como muitos. Além de não ter terminado os estudos, vai estar velha, cansada e vai continuar sendo discriminada. É triste ver alguém sofrendo. É triste ver que existem muitas Rosanas, por aí. Milhares de pessoas são obrigadas a se contentar com o pouco que conseguiram enquanto nos disfarçamos atrás de um véu de futilidade e egoísmo e maquiamos nossos rostos com uma falsa felicidade. Quem é o travesti, afinal?